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Monumento Brasil 500 anos

Lei n. 4.184/2018. “Tomba para o patrimônio histórico e cultural do município, o Monumento Brasil 500 anos e dá outras providências”.

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Localizado no canteiro central do cruzamento da R. Ediberto Celestino de Oliveira e Av. Marcelino Pires, o Monumento chamado de “Brasil 500 anos” consiste numa “réplica de caravela” com a cruz de Malta em destaque e uma placa com os seguintes dizeres: “500 anos de Brasil. 500 ações em 40 meses de trabalho por Dourados. Ação 500. 22 de abril de 1500. Cidade de Dourados. O futuro já”.

De acordo com o projeto de lei,

o Monumento Brasil 500 anos, é alusão comemorativa aos 500 anos do descobrimento do Brasil. A Cruz de Malta simboliza as velas das caravelas usadas por Pedro Álvares Cabral. As caravelas retratam a chegada dos portugueses ao Brasil. A homenagem foi construída e inaugurada no ano de 2000 [na segunda gestão político-administrativa prefeito Braz G. Melo, 1997-2000], e lembra o momento das grandes contribuições deixadas pelos portugueses, também lembra a exploração dos brasileiros naturais da colônia, os indígenas (Justificativa. Projeto de lei n. 038/2018).

Observamos que, não por acaso, a caravela, foi escolhida. Simboliza a colonização portuguesa. Embora cite os povos indígenas, estes só existem através da ocupação europeia. Não os vê como “povos originários” e, anterior a ela, há apenas o “vazio” a ser ocupado. Para Knauss (2000) a escultura acompanha a lógica monumental. E, “como tal, sua característica principal é se constituir a partir de uma estrutura narrativa que define a escultura como produto de representação do passado que ordena uma determinada leitura da história […] celebrar ritualística e afetivamente a aliança entre passado e presente confirma e justifica a nação e sua memória”.

Como pontuou Chauí (2001) há o mito de fundação do Brasil. Porém, o Brasil já existia muito antes de seu “descobrimento”. É importante destacar que a comemoração dos 500 anos do país, foi propagado o mito da fundação e da identidade nacional que, construídos de maneira imaginária, mascaravam os conflitos e as tensões sociais.

Para Oliveira,

Mato Grosso do Sul é um dos primeiros estados da federação em termos de densidade populacional indígena […] é marcante a presença indígena na história, na cultura e no cotidiano da vida de grande parte da população do estado. Esta presença está explícita nos modos de ser e nas próprias identidades da população sul-matogrossense. Mas também se faz presente nos problemas políticos econômicos e socioculturais que constituem um desafio a ser enfrentado, na busca de soluções para a violação de direitos dos povos originários, pela sociedade organizada e pelos governos. (2012, p.199-200)

Dito isso, você já refletiu sobre o significado de “descobrimento”? Já refletiu sobre a “conquista” e a “colonização” do Brasil? O que sabemos ou já lemos sobre os povos indígenas, ou melhor, povos originários? E sobre estes no Mato Grosso do Sul e de Dourados? Há algum patrimônio cultural que referencie especificamente estes povos?

Fontes históricas consultadas:

Projeto de lei municipal n. 038/2018. “Tomba para o patrimônio histórico e cultural do Município, o Monumento Brasil 500 anos, e dá outras providências”. Autoria do vereador Braz Melo. Câmara Municipal de Vereadores de Dourados. 12f.

Foto: Monumento Brasil 500 anos. Equipe do projeto PICTEC II/FUNDECT (2022-2023). Projeto “O patrimônio cultural em Dourados através de um website: cidade, cultura e história”, desenvolvido junto a Escola Estadual Floriano Viegas Machado.

Referências bibliográficas (básicas):

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