
Figueiras – R. Presidente Vargas
Lei n. 75/1985. Decreto Municipal. “Ficam tombados para o patrimônio histórico de Dourados doze figueiras localizadas na R. João Cândido Câmara, dezessete na R. João de Rosa Góes (entre Joaquim Teixeira Alves e Cuiabá).
O conjunto de figueiras existentes na Av. Presidente Vargas, ao lado da praça Antônio João e em frente a antiga sede do jornal O Progresso geralmente são destacadas, inclusive, dentre o conjunto tombado em 1985, via decreto do executivo municipal, apenas estas possuem placa de identificação. As figueiras localizadas na Rua João Candido Câmara e Rua João de Rosa Góes não possuem identificação.


Em 1985, ano do cinquentenário da cidade de Dourados, o prefeito Luiz Antônio Álvares Gonçalves tombou, via Decreto Municipal nº 75, de 20 de setembro de 1985, um conjunto de figueiras. Doze figueiras na Rua João Cândido Câmara, entre as ruas João Vicente Ferreira e Oliveira Marques, dezessete figueiras na Avenida Presidente Vargas, entre a Avenida Marcelino Pires e a Rua Onofre Pereira de Matos e outras nove na Rua João de Rosa Góes, entre as ruas Joaquim Teixeira Alves e Cuiabá. O decreto municipal fez referências às figueiras plantadas num período de colonização promovida pela CAND, mesmo sendo o ipê amarelo escolhido para representar Dourados como símbolo no seu cinquentenário e sendo plantado em vários espaços da cidade, incluindo a Praça do Cinquentenário (Uliana, 2019, p. 54-55).
Posteriormente, outros tombamentos foram realizados, os quais envolviam árvores localizadas em diferentes pontos da cidade, como espécimes de figueira[1] em 2003, jequitibá[2] em 2005, seringueira[3] e figueira[4] em 2010, em diferentes gestões político-administrativas. Árvores de determinadas espécimes foram escolhidas em detrimento de reservas, áreas de proteção ambientais ou parques municipais[5]. Dentre as características excepcionais, belezas estéticas e cênicas dos exemplares patrimonializados esboçaram-se uma valoração paisagística do patrimônio ambiental em Dourados[6]. As árvores, em sua maioria, as figueiras, foram associadas à memória de sujeitos considerados “pessoas ilustres” que deveriam servir de exemplo a população (Uliana, 2019, p.55 e 71-72).
A história foi apresentada nas páginas do jornal O Progresso pelas origens, pelos pioneiros, pelos fatos e acontecimentos ditos importantes, sendo associada ao patrimônio, concebendo-o como “patrimônio histórico”. Neste sentido, emergiram discursos favoráveis ao lugar das figueiras na história, em especial, as localizadas em frente à sede do O Progresso e as localizadas na rua cujo nome homenageia Vlademiro Muller do Amaral, sócio-proprietário do jornal até 1985. Eleitas como patrimônio, as figueiras ganharam as páginas do periódico pelo apreço das pessoas que o dirigiam, como Vlademiro, Adiles e Blanche Torres. (Uliana, 2019, p.109). Observamos que pouco tratam das questões ambientais, da relevância do espécime, do conjunto em que se insere. Apenas o exemplar e a “excepcionalidade dos sujeitos” foram associados à figueira.
Nesse sentido, as figueiras, em especial, as patrimonializadas pelo poder público municipal, podem ser compreendidas como exemplares eleitos associados a pessoas ilustres da cidade, geralmente consideradas pioneiros. Além das árvores, O Progresso noticiou tentativas esparsas de consolidar patrimônios históricos em Dourados. Duas delas chamaram atenção em virtude das recorrentes citações e da defesa do periódico, inclusive reivindicando revitalizações. Um, foi o Clube Social que, apesar do movimento organizado, teve uma tentativa frustrada de tombamento. Outro foi a Usina Velha que, apesar de tombada, ter área desapropriada e vários projetos, até hoje não foi revitalizada. (Uliana, p, 136-137).
Você já se perguntou porque escolheram essas figueiras para ser patrimônio? Você sabia que essas figueiras foram tombadas em conjunto com outras que estão em ruas próximas? Quais critérios foram utilizados? Quem o fez? Ao mesmo tempo, você sabia que nenhuma praça ou parque é considerado patrimônio pelo município de Dourados? Se considerarmos que praças e parques são espaços de sociabilidade, de interação, de identidade, porque se escolheu apenas determinadas árvores?
Fontes históricas consultadas:
Lei nº 75/1985 (decreto municipal) “Ficam tombados para o patrimônio histórico de Dourados doze figueiras localizadas na Rua João Cândido Câmara, dezessete figueiras na Av. Presidente Vargas e nove figueiras na Rua João Rosa Góes (entre Joaquim Teixeira Alves e Cuiabá).
“Figueiras já são parte do patrimônio histórico”. O Progresso. Ano XXXIV, nº4058, terça-feira, 24 de setembro de 1985, capa.
“População douradense participa do Cinquentenário do Município”. O Progresso. Ano XXXIV, nº4122, sexta-feira, 2 de agosto de 1985, capa e p.03.
“Semana da árvore será aberta amanhã”. O Progresso. Ano XXXIV, nº4056, sexta-feira, 20 de setembro de 1985, capa.
“Prefeitura entrega na segunda mais de 500 mudas de ipê amarelo”. O Progresso. Ano XXXIV, nº4057, sábado e domingo, 21 e 22 de setembro de 1985, p. 03.
“Começa hoje a exposição de fotos históricas de Dourados”. O Progresso. Ano XXXV, nº4212, quinta-feira, 12 de dezembro de 1985, capa.
Foto: Figueiras (1985). Equipe do projeto PICTEC II/FUNDECT (2022-2023). Projeto “O patrimônio cultural em Dourados através de um website: cidade, cultura e história”, desenvolvido junto a Escola Estadual Floriano Viegas Machado.
Referências bibliográficas (básicas):
ARAUJO, Laura Gondim Nunes Martins de. A Distribuição espaço-temporal e avaliação qualitativa das praças e parques urbanos de Dourados-MS. 2019. 145fls. Dissertação (Mestrado em Geografia) Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados. Disponível em < https://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/handle/prefix/2555 >
BETONI, Luiz Gabriel Araujo. Arborização Urbana de Dourados/MS: Direitos, Responsabilidades e Efetivação. 2022. 101f. Dissertação (Mestrado em Fronteiras e Direitos Humanos) Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados. Disponível em < https://files.ufgd.edu.br/arquivos/arquivos/78/MESTRADO-FRONTEIRAS/Disserta%C3%A7%C3%B5es%20Defendidas/LuizGabrielAraujoBetoni.pdf >
LIMA, Pedro Alcântara de. Ocupação do fundo de vale do córrego Laranja Doce na cidade de Dourados: Análise da proposta de criação de um parque ecológico. 1999. Dissertação (Mestrado em Geografia). UNESP, Presidente Prudente.
LUCIANO, Luís Carlos. Ribeiro: arquitetura, urbanismo e meio ambiente; exercício de cidadania. Dourados/MS: Edição do autor, 2008.
MAGALHÃES, Cristiane Maria. O desenho da história no traço da paisagem: patrimônio paisagístico e jardins históricos no Brasil: memória, inventário e salvaguarda. 2015. 414 p. Tese (Doutorado em História) Unicamp, Campinas.
SCIFONI, Simone. “Os diferentes significados do patrimônio natural”. Revista Diálogos. Maringá, v. 10, n. 3, p. 55-78, 2006.
PEREIRA, Danilo Celso. “Patrimônio natural: atualizando o debate sobre identificação e reconhecimento no âmbito do Iphan”. Revista CPC, v.13, n.25, p.34–59, jan./set. 2018.
SILVA, Ênio Alencar da. “Problemática Ambiental” em Dourados/MS: Análise das Políticas Públicas nas Zonas de Interesse Ambiental. 2008. 73f. Monografia (Graduação em Geografia) UFGD, Dourados.
[1] Projeto de lei nº035/2003. Lei municipal nº2571 de 16 de junho de 2003. O que chamou atenção não foram as figueiras em si, mas o fato delas localizarem-se na rua que leva o nome de Vlademiro M. do Amaral.
[2] Projeto de lei nº095/2005. Lei municipal nº 2764 de 16 de agosto de 2005.
[3] Projeto de lei nº189/2009. Lei municipal nº3336, de 4 de janeiro de 2010.
[4] Projeto de lei nº 16/2010. Lei municipal nº 3386, de 17 de junho de 2010. A história das duas figueiras está relacionada a figura do “pioneiro” Pedro Palhano. O local em que se encontram as figueiras pertencia à chácara de Pedro Palhano. Além das figueiras tombadas em sua homenagem, a rodovia MS-156 é denominada de Pedro Palhano, assim como a Escola Municipal localizada nas proximidades.
[5] Sobre a preocupação com os parques ambientais são exemplos os trabalhos de SILVA, Ênio Alencar da. “Problemática Ambiental” em Dourados/MS: Análise das Políticas Públicas nas Zonas de Interesse Ambiental. 2008. 73f. Monografia (Graduação em Geografia) UFGD, Dourados. LIMA, Pedro Alcântara de. Ocupação do fundo de vale do córrego Laranja Doce na cidade de Dourados: Análise da proposta de criação de um parque ecológico. 1999. Dissertação (Mestrado em Geografia). UNESP, Presidente Prudente. LUCIANO, Luis Carlos. Ribeiro: arquitetura, urbanismo e meio ambiente; exercício de cidadania. Dourados/MS: Edição do autor, 2008. ARAUJO, Laura Gondim Nunes Martins de. A Distribuição espaço-temporal e avaliação qualitativa das praças e parques urbanos de Dourados-MS. 2019. 145fls. Dissertação (Mestrado em Geografia) Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados. Disponível em < https://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/handle/prefix/2555 >
[6] Conferir MAGALHÃES, Cristiane Maria. O desenho da história no traço da paisagem: patrimônio paisagístico e jardins históricos no Brasil: memória, inventário e salvaguarda. 2015. 414 p. Tese (Doutorado em História) Unicamp, Campinas. Consultar também: SCIFONI, Simone. “Os diferentes significados do patrimônio natural”. Revista Diálogos. Maringá, v. 10, n. 3, p. 55-78, 2006. E, PEREIRA, Danilo Celso. “Patrimônio natural: atualizando o debate sobre identificação e reconhecimento no âmbito do Iphan”. Revista CPC, v.13, n.25, p.34–59, jan./set. 2018.